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domingo, 19 de setembro de 2010



Junqueira Freire

Temor

Ao gozo, ao gozo, amiga. O chão que pisas A cada instante te oferece a cova. Pisemos devagar. Olhe que a terra Não sinta o nosso peso. Deitemo-nos aqui. Abre-me os braços. Escondamo-nos um no seio do outro. Não há de assim nos avistar a morte, Ou morreremos juntos. Não fales muito. Uma palavra basta Murmurada, em segredo, ao pé do ouvido. Nada, nada de voz, - nem um suspiro, Nem um arfar mais forte. Fala-me só com o revolver dos olhos. Tenho-me afeito à inteligência deles. Deixa-me os lábios teus, rubros de encanto. Somente pra os meus beijos. Ao gozo, ao gozo, amiga. O chão que pisas A cada instante te oferece a cova. Pisemos devagar. Olha que a terra Não sinta o nosso peso.

Junqueira Freire

Meus Olhos

Que vês nos meus olhos,
que tanto te espantam?
Que mostram de estranho,
que assim te quebrantam?
Um monstro as pupilas
no fundo terão?
Espelhos no inferno
as alvas serão?
Serão os meus olhos
um quadro de horror?
Demônios, ou fúrias
de imenso terror?
Serão — quais fantasmas
de arábicos sonhos?
Que têm os meus olhos,
que são tão medonhos?
Mentira! — Meus olhos
medonhos não são!
Meus olhos — somente —
têm nova expressão.
Exprimem a luz
que os céus alumia:
— a luz dos mistérios
da sã poesia.
Que são os meus olhos,
que ainda te espantam?
— São deuses que inspiram!
São anjos que cantam!